One night!





O fulgor da juventude fez-me querer tudo demasiado depressa, não as experiências, mas a independência, o soltar de amarras. Achava-me demasiado crescida já para depender de quem quer que fosse. Queria as minhas coisas, conseguidas por mim e acabei a cancelar a matrícula no curso de Relações Internacionais. Comecei a trabalhar durante o dia num escritório de advogados e durante a noite num bar no qual atendia ao balcão.

A minha personalidade alterava-se completamente neste período do dia. Ficava mais mulher, mais apetecível ao olhar de todos os homens que com o passar do tempo, eu percebia que era por mim que procuravam e que era por mim que voltavam uma e outra noite. O acordo era que eu não saísse de trás do balcão e que não aceitasse bebidas de ninguém, mas era-me sempre permitido dançar um pouco. A música apoderava-se do meu corpo, eu deixava de ver os outros e tornava-me mais sensual, mais vibrante, mais quente... Julgo que não teria noção do meu poder, de como conseguiria o que quer que fosse de um homem, até que muitos começaram a pedir-me que os aceitasse, que os acompanhasse. Ofereciam-me joias, mandavam-me flores. Ria-me e desdenhava, fui aproveitando e brincando com tudo e todos até ao dia, ou melhor a noite, em que o vi entrar. Alto, de botas de montar, estilo cavaleiro, cabelo grande, olhos verdes profundos, mãos fortes e decididas com as quais apertou as minhas.

- És mais bonita do que me falaram e vim apenas para te ver.

- Começaste bem, obrigada, o que vais querer?

- A ti, esta noite vou-te ter, vais ser minha, vou-te raptar.

Não o levei a sério, sorri altiva, mas a verdade é que acabei a noite num jipe, ao lado de um desconhecido que me fazia rir, que me dizia tudo o que sentia e pensava, que achava ter tudo ao alcance e que não aceitava um não como resposta. Não me importei sequer em saber para onde me levava, estava totalmente segura e tranquila e sabia exatamente o que se iria passar, sabia-o e desejava-o. Conseguia imaginar-me tocada por aquele homem, conseguia pela primeira vez achar tudo natural, sentia-me na hora e locais certos. Era virgem por convicção e sem qualquer experiência anterior, sem qualquer rasgo do que seria estar nos braços de um homem e satisfazê-lo, mas sentia-me pronta, parecia saber exatamente o que fazer, como o conduzir, como o enlouquecer.

O que senti foi um misto de dor, de loucura. Um nunca mais acabar de prazer. Ele virava-me, torcia-me, possuía-me, e eu sentia-me como que a rasgar por dentro, mas era bom, era o meu corpo a pedir e a querer mais. Estava sôfrega, não me saciava, parecia e sentia-me uma veterana, mas na verdade era apenas a sintonia entre duas pessoas que pareciam reconhecer-se. Prometi-me mentalmente não pensar que apenas tinha vinte e um anos e que não sabia nem conhecia nada dos homens. Prometi-me prazer, libertação, fui livre, feliz, senti-me completa, mulher. Descobri-me e gostei do que soube ser a nova mulher, a nova eu!

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