Sorry, just sorry!


Desculpa, desculpa por favor pelo que deixei de te fazer, de te dizer! Não fui suficientemente madura para ti, não consegui pôr em palavras o que sentia nesta relação, julguei-te o forte, o que conseguiria conduzir-nos, deduzir-me, saber-me, mas numa relação estamos em metades, cada um no seu papel e o meu podia e devia ter sido mais activo. Tomei-te por garantido, não te embrulhei no meu manto de sentimentos, não te amei com palavras, não te disse o quanto te queria, como me enchias os dias de sonhos renovados, o quanto a tua força me fazia bem, até a tua escolha de perfume era perfeita e o teu carro a tua extensão. Cheiravas-me a homem, tocavas-me de mãos seguras, sabias o que querias e esperavas de mim. E o que fazia eu? Olhava para ti embevecida, alimentava-me dos teus beijos, encolhia-me nos teus braços, silenciava-me sorvendo o que os teus lábios me proporcionavam. Ouvia-te e entendia-te, queria conhecer-te, saber-te todo e ia apenas respondendo às tuas mil perguntas, sorrindo-te e aceitando um pouco sem jeito os teus elogios, mas deixei-te fugir, vi-te escapar de mim e nada fiz!

- A tua pele parece de seda e esses cabelos, como gosto de me enrolar neles. És tão bonita, pequenina!
Eu ainda não sabia o que era sentir-me assim, admirada, desejada por palavras. Quando estivemos numa relação onde o outro apenas nos olhava, apenas nos tocava ao fazermos amor e apenas quando estávamos nus, juntos, unidos e quando um simples amo-te! És linda! Completas-me! Não se utilizava em nenhuma circunstância, tudo o que ouvimos de nós e sobre nós soa a estranho, inibe, apaga!
Os teus elogios deixavam-me desconfortável, sem saber muito bem como lhes reagir, então sorria-te e por vezes largava um – “Tonto”.
 Logo eu que me expresso tão bem, que brinco com as palavras, que tenho sempre o que dizer a quem a mim recorre, eu contigo ficava calada, quieta, deixava que me procurasses, que me roubasses os beijos, me tocasses sôfrego, eras sempre tu a tomar a iniciativa e a conduzir a relação. Eu caminhava passiva, deixando-me dominar pela tua força interior. Quando me falavas dos países que visitavas com frequência, os locais nos quais experimentavas novas sensações, comidas, bebidas, sons e cores eu sentia-me pequena, tiny, porque não saio do meu mundo, corro, salto, trabalho, cuido, mas sempre aqui. Viajar não faz parte dos meus dias e eu sei o quanto se enriquece por dentro estando com outras pessoas noutros lugares. Se me assustas e inibes? Sim, claro que sim. A tua vivência, experiência e controlo, só servem para me criar medos. Gosto de controlar, de me controlar os dias, os tempos, as vontades e contigo isso deixava de ser possível. Era eu a controlada, e tu o dominador. És o homem que eu sempre procurei, mas afinal assustas-me! Até a forma como me possuis me assusta. Quando estás por cima de mim, ficas com um olhar destemido, imponente.
- Diz-me porque estás assim, comigo dentro?
- Porque sou tua.
- Queres-me dentro de ti?
Enquanto me perguntavas, a tua mão apertava-me o pescoço e deixava-me num misto de medo e de prazer. Fazias questão de me consumir, de me sentires tua e eu deixava, consumia-me em ti, no teu poder.
- Quero. Anda, por favor anda.
Acabava sempre a pedir que te acalmasses, que não me penetrasses tão sôfrego e violento, doía-me por dentro, era uma dor que me apaziguava a vontade de ti, mas eu acabava a recear que te descontrolasses. E já acontecera uma vez, lembro-me de me sentir totalmente impotente, numa sensação de abandono do corpo, corpo do qual te recusavas a sair. Estava de barriga para baixo e o teu membro duro dentro de mim, numa posição em que todo o teu peso me comprimia para baixo e as tuas mãos me apertavam pela cintura, a minha perna esquerda arqueada para que te movimentasses bem, numa posição que nem sabia existir. Implorei-te até desistir e acabei a vir-me ao mesmo tempo que tu, totalmente esgotada de prazer e de cansaço numa luta desigual. Eram assim as nossas relações físicas, com total domínio teu e com uma entrega apaixonada minha.
- Parece que sempre te conheci, tudo parece natural contigo. – Disseste-me num dia bem cinzento, no qual ficámos enroscados um no outro sem qualquer vontade de nos largarmos e retornarmos às nossas realidades. Sobretudo à minha, porque com duas filhotas ainda pequenas, metade da minha vida se consumia nelas e com elas.
- Vem viver comigo minha querida, por favor, preciso de acordar contigo todos os dias contigo ao meu lado. Do que é que tens medo afinal?
- De começar algo que não consiga depois parar.
- E vais querer? Parar?
- Não sei meu querido, eu…
- Ana, por favor, porque escolhes espelhar o teu futuro, baseada no que correu mal no passado?
- Porque Cláudio na realidade as situações complicadas travam os passos, ficamos excessivamente cautelosos. Eu sei que fiquei.
- Mas então ainda não te inspiro confiança nem segurança?
- Por favor Cláudio, não se trata de ti, é mais tudo o que te envolve, nos envolve…
Estávamos ambos deitados numa cama gigante do hotel para onde me levaste e onde dizias saber que eu descansaria e fugiria de algum stress, descontraídos para além do assunto alegadamente pesado e eu ia-te acariciando, olhando os teus olhos que me penetravam e que eu sabia o que me diziam. Que bom que é sentir-me assim, amada por ti, admirada, olhada, mas ao mesmo tempo dá um frio na barriga. Começar outra vez, recomeçar com alguém que nos irá pedir tempo, amor, cuidado, entrega. Serei eu ainda capaz de o fazer? Como se entra na vida de outra pessoa nesta fase onde já carregamos uma mala demasiado pesada, de memórias, de sonhos que passam barreiras e fronteiras? Não sei, juro que não sei, assim como também não sabia que irias entrar de rompante, terminando com o meu jejum de sentimentos. Entraste e pronto, abanaste as estruturas, questionaste o meu percurso, quiseste-me e mostraste-me que é possível ser de outro homem. Amá-lo, enchê-lo do amor que gosto de fazer. Dizes que sou uma sôfrega, que nunca me sacio e eu corada admito. Sou assim mesmo.
Quero sempre mais e quando os dias se arrastam sem o teu corpo fico ansiosa, incapaz de raciocinar com clareza, cheia de vontade de correr pela estrada e gritar. – “Please help, I need to have you inside of me”! Sabe bem que estejas aí, mas ao mesmo tempo queria sentir-me livre, despojada de sentimentos que me prendam ao chão. OK! Complicada? Eu sei, qual a novidade, sou mulher, não é o que os homens dizem? Pensamos demasiado, tentamos racionalizar tudo, mas também teria que o fazer! Eu acordo sempre a prometer a mim mesma que irei ser mais ligeira, pensar menos, querer e fazer, usufruir e gozar… mas… nop, no way, essa não seria eu! Eu sou aquela que ama demasiado, que sente tudo em profundidade, que escreve até que lhe doam os dedos de tanto martelar emoções no teclado. Eu sou a que dá tudo e deseja na mesma proporção. Não quero desistir de mim!
Após a nossa longa conversa, fiquei a saber que o que te movia era sobretudo a vontade de me teres aninhada em ti, na tua casa, na tua vida, que a tua separação já longa te exigia uma companhia permanente e não apenas pedaços de amor. Que me desejas numa intensidade que eu também desejava, mas da qual fugia agora, num absurdo de sentimentos. Queria agora, mas não já! MULHERES!
-  Anda para cima de mim e mexe-te como só tu sabes, minha querida.
- Para além de gostar muito mais de sentir o teu peso em mim, também gosto de estar por cima, de comandar, de ver o prazer que te proporciono e os meus movimentos ficam mais libertos. Queria enlouquecer-te, dar-te tudo mesmo sem precisar de falar. Apenas olhar-te, sorrir-te, beijar-te, mas acabei a dar de menos e perdi-te espero eu que não para sempre, mas perdi.
No entanto está prometido que te irei reconquistar, começando de novo, falando sobre tudo, dizendo tudo, sorvendo-te todo, com o corpo e com as palavras. Nunca mais deixarei nada por dizer, sobretudo que te quero, que te amo e que irei sim partilhar tudo contigo. Todos os cantos e recantos da tua vida, alguns dos quais já conheço e dos quais me habituei a gostar. Até lá, sorry. Just sorry!


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