De repente!
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Esbarrámos literalmente um no outro! De repente, em
apenas alguns minutos, tudo estremeceu. As minhas fundações, aquelas que eu
julgava firmes, sólidas e seguras, abanaram e mostraram-me como se pode ser
realmente frágil e vulnerável.
Encontrei-te numa daquelas viagens que reservava apenas para mim.
Ia sozinha, desfrutava dos meus silêncios e por norma avançava alguns capítulos
do livro com data firmada. A Itália tem uma luz muito própria, uma língua
votada ao amor. Pessoas que se entregam à dádiva e aos abraços. Pessoas que nos
pregam mil e um beijos, que nos olham e conseguem ver. Tu eras assim, contigo a
vida era uma montanha russa de sentimentos, mimo, sexo do melhor que alguma vez
tive, passeios à beira-mar e silêncios cheios de palavras.
Durante o dia, quando não podíamos estar juntos, porque tu eras
banqueiro, escrevia como uma louca. Os meus dedos pareciam ter vida própria
e nem a Carlota, a minha agente, conseguia acreditar no avanço que estava a dar
ao livro. Andava eufórica, a enviar-me mais projectos e a sugar-me a alma. À
noite tinha-te por completo. A casinha de pedra cinzenta que alugara
recebia-nos, permitindo jantares ao luar, muito amor feito sobre a relva. Tu
querias-me inteira. Querias que te lesse os meus livros e que dançasse ao som
dos discos que ias escolhendo.
- Já sabes como vais encaixar a distância, como se vão ver e se
alguma coisa se irá manter?
- Sabes Paula, não me apetece pensar nisso agora, se passar a ser
apenas um amor de verão, que seja. O que tive já não me pode ser tirado,
cresci, aumentei o ego e também o peso com tanto jantar.
- Ama-lo?
- Muito, mas de forma serena, sem esperar mais do que estou a ter
agora.
- És escritora, quanto a isso não restam dúvidas. Tens uma forma
muito própria de te veres e aos outros.
Já no meu apartamento, da janela que me deixa olhar para o mar que
nos separa, bebo o meu chocolate quente e tenho nas mãos o livro com a história
de outras vidas, da minha e daqueles que vou deixando cruzar-se comigo. Não
tenho qualquer receio, o que tive bastou-me, o Salvatore chegou e fez-me
acreditar outra vez, em mim, no sonho, no amor, aquele sobre o qual não me
canso de escrever. Deixámos promessas, muitos beijos que selaram todas as
palavras de amor que fomos capazes de pronunciar e ficámo-nos na pele para
sempre. Mesmo que não o volte a ter. Mesmo que o depois já não seja tão
encantador e colorido, tudo o que nos demos preencheu-nos. O amor tem várias
formas e formatos e o nosso teve o que nos cabia.
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