Quem me segura agora?


Para quem me viro agora que o colo deixou de existir e a minha existência se resume a quem sou e de quem preciso de cuidar? Para onde dirijo o brilho que os meus olhos espelhavam quando era beijada com as certezas de que tudo ficaria bem, tal como eu mesma e que ficavam mesmo? Com quem falo quando falar, antes, era para quem me ouvia, não julgava e assegurava de que no dia seguinte tudo seria mais claro e menos doloroso? A quem faço as perguntas que eram respondidas com toda a verdade, mas que agora chegam como a chuva, a inundar tudo à sua volta, ou apenas a recordar-me de que existe, mas sem que saiba quando voltará? Quem me insufla a vontade de continuar, afastando o que me impede de querer atingir as estrelas, porque elas estão lá para mim? Que amor maior me inspira agora que nenhum amor me preenche o coração e me diminui as atitudes antes tão guerreiras? Onde está quem esteve no meu começo e me prometeu que estaria sempre? Quem me abraçará se sentir que não me basto e quem me afastará a mecha de cabelo teimosa que teimosamente me esconde a face cansada? Para onde corro se a vontade de chegar a algum lugar seguro, a casa, me invadir como invade o vazio que a alma tenta em vão preencher? Para onde me viro apenas para me sentir segura, sendo tão frágil quanto me permito e tão ávida do que ainda me falta saber, sobre mim, o que me espera, e quem eventualmente esperará por mim? Quem me escuda da tempestade e me aquece do frio que cresce na barriga, mas se alastra pelo corpo que mais ninguém toca? Quem me redirige quando o receio de perder é maior do que a certeza de que as perdas também trazem vitória? Quem já não está na vida que nunca julguei ter que viver sozinha, mas que tanta falta me faz? Quem me limpa as lágrimas que escorrem sem que as consiga controlar, porque fiquei, de repente, num acordar novo, sem qualquer base, sem chão e sem o meu pedaço de mundo? Para quem me viro agora que já não sei para onde estou virada?

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