E se?



E se esta for a minha última noite contigo, o que serei capaz de te dar enquanto tentar não sentir o final do que ainda agora parece ter começado?  E se já não te puder voltar a envolver de tudo o que sou enquanto o fomos juntos e acreditámos que seria possível? E se nunca te tivesse amado como o sinto, contorcendo-me numa dor que me vem de dentro, até quando estavas no corpo que ainda te pertence?

Tiveste sempre demasiado medo do amanhã e precipitaste o que não pude parar, mesmo sabendo que não deixaste de me amar. Escondeste o que deverias mostrar e deixaste, para mim, o que preferia nunca ter visto. Soubeste exatamente o que dizer enquanto me dizias, de olhar determinado e seguro, que não era a mulher que te servia.

E se nunca mais for capaz de voltar a amar, o que restará de mim que valha a pena manter? E se amanhã acordar sem me lembrar do ontem onde estivemos de corpo e alma e me fizeste as juras que não foste capaz de cumprir? E se nem as memórias restarem enquanto te recuso a amizade que ofereceste, porque nunca seria o que me basta? E se nunca tiver respostas para as perguntas que me faço, porque escolheste já não estar?

Tive sempre toda a força deste e de outros mundos, mas não bastou. Escondi as dores que me fustigavam enquanto te sorria para que me quisesses querer, sem te ter realmente visto. Soube exatamente o que te dizer, de coração aberto e jurando-te que eras o homem que me servia.

E se nunca mais for capaz de acreditar, para que servirão os olhos que antes tudo viam e os lábios que se adoçavam para te beijar? E se esta for a minha última noite contigo?


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