Não sei quem sou sem ti!



Olá meu amor,

Há muito que parei de escrever para ti, mesmo que o faça mentalmente, tentando conjugar os verbos que nos definiam e recusando manter-me zangada com a tua partida. Digo-me e repito que não tínhamos mais tempo nem momentos e que a alternativa, se ficasses, seria ficarmos ainda mais desgastados e doridos. Tento convencer-me, mesmo que em vão, de que nada mais haveria a fazer ou a dizer, querendo acreditar que dissemos tudo. Os nossos últimos dias, e que dor se aloja agora no peito, por repetir o que nunca desejei que acontecesse, foram serenos e serviram de bálsamo a tanta mágoa e desencanto. Passeámos de mãos dadas nos inúmeros lugares onde deixámos parte de nós e recolhemos o que ficaria para memória futura. Deitámo-nos a altas horas da noite, recordando cada minuto de todos os anos que vivemos juntos e saboreámos os vinhos que armazenei para ocasiões especiais. Tentámos de tudo, mas falhámos, tu e eu, porque não soubemos de que forma sarar o que nos queimou qual ferro em brasa. 

Ainda não sei quem sou sem ti. Dou comigo a tocar em cada um dos objetos que faziam parte das tuas rotinas e que sempre tomei por garantidos. Nunca mais nada teve o mesmo sabor, e vou ouvindo, sem escutar verdadeiramente, o que me dizem as pessoas que tentam segurar-me, porque nunca me tinham visto cair. As horas passam tão lentas que quase me sinto flutuar, sem gravidade nem energia, mas de repente percebi que já se passou um ano e que devo ter hibernado, porque não me recordo de quase nada.

Quando é que nos afastámos tanto, que até o que sonhámos em conjunto se esfumou? Para onde deixei de olhar para que acabasses a ver outra que não eu? O que foi que deixei de ser, ou tu para mim, para que o NÓS se esvanecesse?

Há muito que desisti de entender o que nos abalrrou, mas preciso, desesperadamente, de saber quem sou, agora que sou apenas eu. Perdi-te mal nos perdemos de nós e o esforço para te recuperar apenas agudizou a distância que se instala quando o amor parte. Há muito que já não era amada, mas pareço ter sido a última a perceber.

Deixo-te um abraço apertado, com o desejo de que já saibas o que significa existires sem mim, porque se alguma dúvida te ensombrar, vais precisar de tudo o que és e tens para resistir.

Até sempre,

M M

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