28.7.17

Lembro-me...

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Feelme/Lembro-me...Tema:Contos!

Lembro-me ainda, das palavras fortes, cheias de ódio, que nos largámos a ambos e da tua fraqueza quando saíste pela porta de onde nunca mais te voltarei a ver entrar. Lembro-me de como chovia, dos trovões que se sucediam aos relâmpagos que iluminavam tudo à sua volta, até mesmo a nós, dois seres tão feridos, que nem o amor que carregáramos antes conseguia sossegar a tempestade interior.

Permitimos que se acumulassem culpas, que o tempo nos empurrasse para vários amanhãs, nos quais deveríamos ter sido capazes de falar sobre o que nos doía. Permitimos que falhássemos ambos, na nossa promessa de nos contarmos tudo e de nunca adiarmos o que só acabaria a crescer de forma descontrolada. Permitimos que num único momento, que eu nunca mais esquecerei, nos afastássemos um do outro e desistíssemos do que mais ninguém tinha e que tanto nos custara a criar.

Foi num dia assim que nos conhecemos, mas dessa vez a chuva abrigou-nos o interior que estava demasiado atormentado para sentir a tormenta lá fora. Não chegámos a falar, apenas nos encostámos, de forma inconsciente um ao outro, e esperámos, sentindo-nos verdadeiramente acompanhados, pela primeira vez desde há muitas dores lá atrás. Nunca mais me libertei do teu cheiro e o teu arfar ritmado passou a ser a minha melhor forma de adormecer. Foi num dia assim que te pude olhar, quando de repente, como se nunca tivéssemos sequer estado ali, o mesmo tempo que nos empurrara um para o outro, se limpou e nos limpou por dentro. Foi num dia assim que acabámos a trocar contactos, ainda de forma silenciosa, como se alguém nos estivesse a soprar - aceita-o - aceita-a...

Não sei de onde nos saiu tanta mágoa e porque saímos de nós, esquecendo tanto que nos pertencia, não sabendo como nos impedir de impedir o outro de sofrer, tanto, que tiveste que me deixar para trás, sozinha, impotente, porque foi num dia igual ao que te trouxe que me foste levado, e já nada poderei fazer ou dizer para te trazer de volta, para te abraçar e pedir desculpas pelos minutos de um desamor que fora capaz de encobrir todo o amor que te tinha.

Agora só posso imaginar o que me dirias quando voltasses a entrar, o quanto se abririam os teus braços para que me aninhasse e te pedisse um perdão sentido. Agora nada conseguirá reverter o que fiz, e se a dor que te infligi tiver sido tão grande quanto foi a tua perda, nunca mais te conseguirei voltar a encontrar, em todas as outras vidas que eu jurava estarem-nos reservadas. Agora fico como estava antes de ti, sozinha, sem ter como partilhar o que me ensinaste e sem me importar com o lado da cama no qual estarei enquanto todas as horas passarem, e eu continuar aqui, à espera de que o num dia igual àquele em que te perdi, possa também eu ser levada, de forma tranquila, mas rapidamente, porque nada do que tenho basta para que queira ficar.



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